CEBRI avança na COP30 com eventos na Blue Zone e inicia as atividades na Casa Diálogo

  • 12 novembro 2025

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) ampliou sua atuação na COP30 com eventos realizados na Blue Zone: espaço oficial das negociações da UNFCCC. Também teve início a programação da Casa Diálogo, sede temporária do CEBRI em Belém e novo ponto de articulação para especialistas, formuladores de políticas e lideranças da sociedade civil.

A Casa Diálogo é uma parceria entre o CEBRI e o Inter-American Dialogue, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e patrocínios do Itaú, Vale, TIM, Fundação Konrad Adenauer (KAS Brasil) e Syngenta. Localizada próxima à Blue Zone, foi criada como um espaço para converter conhecimento técnico em cooperação concreta, conectando agendas de mitigação, adaptação, tecnologia e desenvolvimento sustentável.

 

12 de novembro

“Building Tipping Point Governance” – Construindo a Governança dos Pontos de Inflexão (Tipping Points)

Organizado pelo Institutional Architecture Lab (TIAL), em coorganização com o CEBRI, University of Oslo, Institute of Advanced Studies e Universidade de São Paulo, o painel reuniu cientistas e lideranças para discutir como os sistemas globais de governança podem responder aos riscos associados aos principais elementos de inflexão do sistema terrestre, como a estabilidade da Amazônia e da circulação do Atlântico Norte (AMOC).

A partir da nota conceitual do Global Tipping Points Report 2025, o encontro discutiu propostas para estruturar uma rede global de Instalações de Monitoramento e Resposta a Elementos de Inflexão, reforçando o papel da ciência na construção de mecanismos preventivos e sistemas de alerta capazes de antecipar riscos planetários.

 

Tecnologia e Florestas: Desbloqueando a Inovação para a Liderança Climática do Brasil

O primeiro evento da Casa Diálogo, coorganizado pelo CEBRI, Tony Blair Institute (TBI) e o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), reuniu especialistas para debater como tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial, plataformas de monitoramento florestal, geotecnologias e modelos inovadores de crédito de carbono, podem impulsionar a conservação florestal e o desenvolvimento rural sustentável.

Com abertura e moderação de Léa Reichert, Diretora Adjunta de Projetos do CEBRI, o evento recebeu André Oliveira, Assessor de Finanças Climáticas no TBI, Gabriella da Costa, Pesquisadora no ITS Rio, Rogério Cavalcante, Fundador da umgrauemeio, Grégory Maître, CEO da Morfo Brasil, Zé Gustavo Fávaro Barbosa Silva, Diretor Executivo do Fórum Brasileiro das Climatechs, Henrique Dolabella, Diretor do Cadastro Ambiental Rural do Ministério da Gestão e da Inovação, Marianna Budaragina, Assessora Sênior de Finanças Climáticas do TBI, e José Borges Frias Jr., Diretor de Inovação Corporativa da Siemens.

Em sua fala, Léa destacou que a tecnologia é fundamental tanto para o monitoramento florestal quanto para os processos de transição energética. Segundo ela, o Brasil oferece mais oportunidades de investimento e maior potencial de impacto positivo no PIB do que a média global.

Para que o país cumpra a meta da NDC até 2050, será necessário neutralizar as emissões de CO2 até 2040 e compensar, especialmente, as emissões de metano na agricultura e de carbono na indústria. A neutralidade climática depende diretamente do engajamento pleno desses setores, afirmou.

Léa também enfatizou o papel estratégico do setor de uso da terra (manejo do solo, sistemas agroflorestais e restauração), que pode gerar quase 1 milhão de empregos e impulsionar o PIB. Ela reforçou ainda a importância de fortalecer políticas de comando e controle para conter o desmatamento e viabilizar a neutralidade climática.

Gabriella da Costa (ITS Rio) destacou que soluções digitais devem incorporar conhecimentos de comunidades locais e apresentou iniciativas de monitoramento com inteligência artificial, como as conduzidas pelo Povo Kanindé, Um Grau e Meio, Previsia (Imazon) e SEEG, como exemplos de inovação alinhada à realidade territorial.

Na mesma linha, Rogério Cavalcante (Um Grau e Meio) destacou que a tecnologia é uma aliada essencial para tornar mercados como o de crédito de carbono mais críveis, atualizados e legítimos. Grégory Maître (Morfo Brasil) apresentou soluções de reflorestamento de ponta a ponta, realizadas pela Morfo, que combinam semeadura direta por drones, monitoramento digital e uso de inteligência artificial. Segundo ele, a tecnologia permite otimizar processos, reduzir custos e ampliar significativamente a escala das operações.

O debate também abordou os desafios de financiamento para a inovação. Zé Gustavo Fávaro Silva (Fórum Brasileiro das Climatechs) destacou a dificuldade que startups climáticas enfrentam para acessar capital após as primeiras rodadas de recursos públicos. Segundo ele, falta um pipeline estruturado e intermediários capazes de conectar empreendedores a financiadores e investidores privados. Destravar esses fluxos de investimento, afirmou, é fundamental para que o Brasil realize seu enorme potencial de liderar soluções tecnológicas climáticas em larga escala.

Do ponto de vista institucional, Henrique Dolabella (Ministério da Gestão e Inovação) destacou o papel do Cadastro Ambiental Rural (CAR) como infraestrutura crítica para dar transparência e credibilidade aos dados ambientais. Ele reforçou que padronizar conceitos, métricas e bases de dados é fundamental e deve envolver governos, empresas, sociedade civil e cooperação internacional.

Marianna Budaragina (TBI) enfatizou que a cooperação tanto entre governos, setor privado e sociedade civil quanto entre países é decisiva para escalar soluções, especialmente em economias em desenvolvimento. 

José Borges Frias Jr. (Siemens) reforçou que parcerias público-privadas são essenciais para avançar no ritmo necessário e destacou a relevância de nano-fábricas locais, que geram impacto direto nas comunidades e se adaptam melhor às especificidades dos ecossistemas florestais.

O painel concluiu que a combinação entre inovação tecnológica, colaboração multissetorial e instrumentos financeiros adequados será determinante para que o Brasil consolide sua liderança climática e florestal nas próximas décadas.

 

Alavancando as Ações da COP para Enfrentar Superpoluentes e seus Impactos na Qualidade do Ar 

Realizado pelo CEBRI e pelo Clean Air Fund no Pavilhão de Superpoluentes, na Blue Zone, o painel reuniu especialistas internacionais para discutir estratégias de mitigação de poluentes climáticos de vida curta que geram impactos imediatos no clima, na saúde e na economia.

Moderado por Thais Jesinski Batista, Diretora Adjunta do Programa de Transição Climática e Sustentabilidade do CEBRI, o painel contou com a participação de Jane Burston, CEO do Clean Air Fund, Izabella Teixeira, Conselheira Consultiva e Internacional do CEBRI, Paulo Artaxo, Professor da USP, autor do IPCC e membro do Comitê Científico da COP30, Marcelo Mena, CEO do Global Methane Hub, e Martina Otto, Vice-diretora da Divisão de Mudanças Climáticas do PNUMA.

Os participantes ressaltaram que, embora a atenção a esses poluentes tenha crescido nas COPs, ainda existe uma lacuna significativa de financiamento: é preciso sair da escala de milhões e avançar para bilhões.

Especialistas enfatizaram que reduzir superpoluentes é uma das formas mais eficientes de desacelerar o aquecimento global no curto prazo, já que gases como o metano têm vida atmosférica muito mais curta que o CO2. Além disso, seus impactos diretos na saúde tornam a agenda ainda mais estratégica, com benefícios econômicos claros.

A discussão também reforçou que as soluções já existem, como melhoria no manejo de resíduos, controle de emissões veiculares, eletrificação do transporte, cozinhas limpas e tecnologias acessíveis, e são economicamente viáveis. Países poderiam avançar rapidamente ao incluir metas específicas para superpoluentes em suas NDCs.

Os painelistas defenderam o fortalecimento da cooperação internacional, de mecanismos de financiamento e de ações em escala, além da necessidade de aprimorar a narrativa pública. Acelerar a mitigação de superpoluentes é essencial para "ganhar tempo" na luta climática, o que exige mais recursos, políticas integradas, colaboração multissetorial e comunicação clara sobre seus impactos imediatos e tangíveis.

Izabella Teixeira reforçou a importância de traduzir a ciência de forma simples e acessível, conectando evidências à vida cotidiana das pessoas para impulsionar ações concretas. Ela destacou ainda que integrar clima, saúde e qualidade do ar é crucial para ampliar o engajamento político, social e econômico e acelerar medidas de grande impacto.

A iniciativa integra o projeto desenvolvido conjuntamente por CEBRI e Clean Air Fund para fortalecer debates e ações sobre qualidade do ar rumo à COP30. Clique e saiba mais

Compartilhe

MAIS NOTíCIAS