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Guerra na Ucrânia será longa, diz especialista russo, em evento da Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC) e do CEBRI

  • 10 março 2022

Para analisar a Guerra na Ucrânia e as consequências no cenário internacional, a Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) convidaram para debate um dos mais respeitados analistas russos e reconhecido por sua independência dentro e fora daquele país, Dmitri Trenin, Diretor do Carnegie Moscow Center. Dmitri participou do evento online “Guerra na Ucrânia: avaliação da situação e consequências para a região e o mundo, na manhã desta quinta-feira.

Segundo o especialista, a percepção do momento atual dentro da Rússia enfraquece a estratégia de Putin: "As pessoas não veem a Ucrânia como um grande inimigo. É como um Cavalo de Tróia. Eles veem os EUA como inimigos." Segundo Dmitri, o objetivo da Rússia é neutralizar a Ucrânia. “O objetivo final não é tornar a Ucrânia uma parte da Rússia e nem uma aliada, mas que ela seja neutra em relação aos EUA e a OTAN.”

O analista acredita que haverá uma intensificação dos combates e que o mundo ainda vive os estágios iniciais da guerra. Apesar do presidente Vladimir Putin ter baixado o tom recentemente, um acordo está longe de acontecer, segundo Dmitri. “Eu acredito que Putin abaixou um pouco o tom. Não está mais falando sobre neonazismo e parou de chamar a Ucrânia de regime e voltou a chamar Zelensky de presidente. Mas não acho que teremos um acordo em breve. A Rússia deve ficar mais tempo na Ucrânia do que o imaginado. Estamos no início do conflito e não mais perto do fim.”, previu.

Sobre o papel da diplomacia, Trenin destacou o papel da China na reorganização do tabuleiro geopolítico e lamentou a falta de uma liderança de peso nas negociações, como a ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel: “A China pela primeira vez tomou uma posição sobre questões de segurança da Europa e pode desempenhar um papel importante. Após a saída da Merkel, não existe ninguém com peso suficiente para liderar um processo independente sem depender dos EUA para chegar a um acordo”, pontuou. 

Pela lógica de Putin, se a diplomacia não trouxer resultados, a via militar é a única possível, segundo Dmitri. Ele poderia ter seguido com as conversas se percebesse que um acordo estava próximo, mas acabou vendo as portas se fechando — afirmou, sugerindo que, em um cenário extremo, como um hipotético conflito direto com forças da Otan, o uso de armas nucleares poderia ser colocado sobre a mesa. “Se os aliados ocidentais interferirem na operação, Putin já afirmou que poderiam sofrer consequências jamais vistas, e podemos imaginar o que isso significa.”

O debate teve como mediadores Fernanda Magnotta, Senior Fellow do CEBRI, professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, e o cientista político Sergio Fausto, Pesquisador Sênior do CEBRI e diretor da Fundação FHC.

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Para analisar a Guerra na Ucrânia e as consequências no cenário internacional, a Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) convidaram para debate um dos mais respeitados analistas russos e reconhecido por sua independência dentro e fora daquele país, Dmitri Trenin, Diretor do Carnegie Moscow Center. Dmitri participou do evento online “Guerra na Ucrânia: avaliação da situação e consequências para a região e o mundo, na manhã desta quinta-feira.

Segundo o especialista, a percepção do momento atual dentro da Rússia enfraquece a estratégia de Putin: "As pessoas não veem a Ucrânia como um grande inimigo. É como um Cavalo de Tróia. Eles veem os EUA como inimigos." Segundo Dmitri, o objetivo da Rússia é neutralizar a Ucrânia. “O objetivo final não é tornar a Ucrânia uma parte da Rússia e nem uma aliada, mas que ela seja neutra em relação aos EUA e a OTAN.”

O analista acredita que haverá uma intensificação dos combates e que o mundo ainda vive os estágios iniciais da guerra. Apesar do presidente Vladimir Putin ter baixado o tom recentemente, um acordo está longe de acontecer, segundo Dmitri. “Eu acredito que Putin abaixou um pouco o tom. Não está mais falando sobre neonazismo e parou de chamar a Ucrânia de regime e voltou a chamar Zelensky de presidente. Mas não acho que teremos um acordo em breve. A Rússia deve ficar mais tempo na Ucrânia do que o imaginado. Estamos no início do conflito e não mais perto do fim.”, previu.

Sobre o papel da diplomacia, Trenin destacou o papel da China na reorganização do tabuleiro geopolítico e lamentou a falta de uma liderança de peso nas negociações, como a ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel: “A China pela primeira vez tomou uma posição sobre questões de segurança da Europa e pode desempenhar um papel importante. Após a saída da Merkel, não existe ninguém com peso suficiente para liderar um processo independente sem depender dos EUA para chegar a um acordo”, pontuou. 

Pela lógica de Putin, se a diplomacia não trouxer resultados, a via militar é a única possível, segundo Dmitri. Ele poderia ter seguido com as conversas se percebesse que um acordo estava próximo, mas acabou vendo as portas se fechando — afirmou, sugerindo que, em um cenário extremo, como um hipotético conflito direto com forças da Otan, o uso de armas nucleares poderia ser colocado sobre a mesa. “Se os aliados ocidentais interferirem na operação, Putin já afirmou que poderiam sofrer consequências jamais vistas, e podemos imaginar o que isso significa.”

O debate teve como mediadores Fernanda Magnotta, Senior Fellow do CEBRI, professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, e o cientista político Sergio Fausto, Pesquisador Sênior do CEBRI e diretor da Fundação FHC.

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