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Special Section

Russia versus Ukraine in 2022: An Attempt to Analyze and Learn

Analytical Challenges and Preliminary Observations of an Ongoing Conflict

Abstract

This policy paper begins by analyzing the 2022 Russian campaign in Ukraine, as it seeks to identify ex ante both Russian and Ukrainian objectives – from minor to major ones. The paper then suggests ways of doing this analysis and discusses challenges related to it – in general and specific to the situation at hand. The first preliminary conclusion is that both the initial deployment and behavior of Russian forces since February 2022 do not support the widely held view that Russia would have attempted but failed to take Kiev immediately and install a puppet regime in Ukraine. The second is that Western media analyses seem to have underestimated the Russian forces’ difficulties.  

Keywords

Russia-Ukraine War; combined arms; war analysis; force design.
Image: Shutterstock.

Neste artigo[1], visa-se a uma análise tentativa da Campanha da Rússia na Ucrânia em 2022, com base no que é possível inferir das informações publicamente disponíveis até 7 de julho de 2022[2].

Por que “Campanha da Rússia na Ucrânia em 2022” e não “Guerra da Ucrânia” ou outra designação? Considero que é importante manter em mente que a Guerra da Ucrânia, propriamente dita, começou em 2014, com a invasão russa que teve como resultado mais importante a anexação da Crimeia pela Rússia (ainda que não reconhecida internacionalmente)[3]; após o Acordo de Minsk de 2015, prosseguiu com hostilidades intermitentes entre as entidades regionais apoiadas pela Rússia – a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Luhansk (RPL)[4] e as forças a elas associadas, com suporte russo, cuja determinação é bastante incerta –, e o governo da Ucrânia, suas forças armadas e grupos paramilitares aliados ou integrados a estas[5], – até 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia deu início a uma nova invasão em larga escala. Por isso, adota-se aqui a designação acima – doravante, no texto, por simplificação, simplesmente “Campanha de 2022”.

Por que tantas ressalvas e qualificações? Por um lado, ao mesmo tempo em que é muito difícil estimar os diversos objetivos das partes, é indispensável, numa guerra, interpretar as decisões e os acontecimentos à luz daqueles objetivos de cada parte. Estes, portanto, precisam ser inferidos a partir de vários insumos, entre os quais conhecimento teórico, conhecimento de fatores táticos e logísticos, conhecimento sobre as próprias partes, seu contexto, sua região etc. A disponibilidade de novas informações frequentemente exige a reavaliação dos objetivos e, portanto, também as revisões nas interpretações dos significados das decisões e eventos. Isso é inevitável e é intrínseco à análise de guerras e campanhas (Diniz & Proença 2020, Diniz 2022).

Por outro lado, é muito difícil obter informação de qualidade sobre os próprios acontecimentos e, mais ainda, sobre as decisões. Numa guerra, é compreensível que lideranças políticas e militares estejam menos empenhadas em divulgar informações precisas do que em confundir e desmotivar seus adversários, mobilizar seus próprios apoiadores, motivar suas forças, atrair aliados e outras tarefas muito mais prementes de seus pontos de vista. Muito frequentemente, até mesmo a informação disponível apenas para as lideranças de cada lado é imprecisa, ambígua; informações em princípio cruciais não lhes chegam, ou não lhes chegam em tempo hábil; a interpretação dessas informações, muitas vezes, depende de outras que não estão disponíveis, por razões diversas; enfim, muitos fatores contribuem para, segundo o clichê, a “névoa da guerra”. Também, desse ponto de vista, quem queira analisar os acontecimentos, e particularmente quem o queira fazer enquanto estes ainda se desenrolam, precisa mobilizar conhecimento prévio, engenho e arte para incorporar criteriosamente o que for possível obter a partir de informação necessariamente precária, e dispor-se a revisar as análises à luz de novos dados. 

DIFICULDADES ESPECÍFICAS NA ANÁLISE DA CAMPANHA DE 2022

Porém, a Campanha de 2022 vem apresentando problemas adicionais no que concerne a informações, o que, por sua vez, tem prejudicado, e muito, algumas análises. Trata-se de um tipo inusitado de atividade de algumas organizações (com destaque para o Ministério da Defesa britânico), de um lado, e de um problema de enquadramento analítico, de outro. É necessário caracterizar bem esses fenômenos para que se possa compreender por que o entendimento que informa este artigo difere tanto dos que vêm predominando no debate público.

Diante de acontecimentos de grande impacto político potencial, como é o caso da Campanha de 2022, é compreensível que, para além das partes diretamente em confronto, alguns governos, principalmente os que podem ser mais direta ou intensamente afetados, tenham suas posições a respeito deles, tenham os seus resultados preferidos e os mais indesejados, e atuem no sentido de que as coisas se desenvolvam de modo muito mais próximo dos primeiros ou, pelo menos, mais distante dos últimos – inclusive atuando de modo a moldar as percepções do público em geral e, com maior premência, as dos atores presumivelmente mais influentes. Isso frequentemente inclui, digamos, uma gestão cautelosa das informações divulgadas e ocultadas, com maior ou menor preocupação com a precisão daquelas divulgadas. De certo modo, analistas e observadores experientes tendem a descontar esse tipo de informação (alguns diriam “propaganda”), ou, pelo menos, a tomá-las com cuidado.

Mas, ao mesmo tempo, presume-se que esses mesmos governos não acreditam na sua própria propaganda e que produzem suas próprias análises e, idealmente, obtêm suas próprias informações. É comum que haja agências específicas para tanto, como as agências de inteligência tradicionais, e departamentos e órgãos internos de outras agências, como as dos Ministérios da Defesa, das Forças Armadas, ou dos Ministérios das Relações Exteriores. Geralmente – em que pese o fato de que, de vez em quando, uma ou outra liderança política opte por divulgar alguns desses documentos, por razões políticas – essas organizações não trazem a público por iniciativa própria esse tipo de análise e de informação, por diversas razões. Entre elas, sem pretensão de exaustividade, podem-se mencionar:

  • para não revelar a potenciais adversários o que se sabe e o que não se sabe, o que se pensa e o que não se pensa, pois esse conhecimento pode permitir a um adversário manipular o comportamento de seu alvo;
  • para não correr o risco de expor os processos pelos quais aquelas informações foram obtidas – particularmente quando isso envolve algum tipo de atividade clandestina –, o que poderia levar seus alvos a identificar e corrigir eventuais falhas, impedindo a continuidade do acesso às informações;
  • para diminuir o risco de aferrarem-se a entendimentos que conflitem com novas informações e observações, mas cuja reavaliação poderia produzir, ainda que injustamente, descrédito ou desconfiança do público com relação à agência/departamento – principalmente se aquela avaliação ou informação, feita pública, informou uma decisão cujos resultados foram insatisfatórios ou tidos como catastróficos;
  • para que não haja suspeita de que essas agências estejam, elas mesmas, induzindo o público a erro, tornando públicas análises e informações que divergem das sigilosas, ou então fazendo com que divulgações parciais distorçam a percepção do público, o que seria, por si só, muito grave – mas, além disso, poderia, no caso de uma investigação, obrigar a agência ou departamento a, para fazer sua defesa, tornar pública informação que não o deveria ser, ou então a aceitar consequências negativas injustas por se recusar a fazê-lo;
  • e, também compreensivelmente, evitar o vexame público em caso de erro egrégio, a que tenham sido induzidas – por mais que tenham tomado os cuidados necessários – pela necessidade de tomar uma decisão, mesmo diante de informações precárias, incompletas ou conflitantes e de fontes pouco ou nada confiáveis.

Exatamente por serem esses riscos tão elevados e significativos, muitos analistas e observadores, até mesmo experientes, tendem a presumir que, se uma organização desse tipo – principalmente se reputada séria, sólida – opta por divulgá-las, e fazê-lo sistematicamente, é porque, de fato, tem altíssima confiança na sua qualidade, robustez e precisão, mesmo quando a divulgação é acompanhada de ressalvas (que, muitas vezes, acabam sendo tomadas como sendo pro forma). Ora, não só isso não é verdade, como também pode ocorrer que, apesar da confiança que a agência tem nelas, as análises ou informações estejam equivocadas. O problema é que, em guerras, é muito mais difícil a obtenção ou corroboração independente de informações por parte, por exemplo, de jornalistas ou órgãos de imprensa, em função dos riscos intrínsecos à situação e, por vezes, das restrições impostas pelas forças ou agências que controlam os acessos.

Nesse contexto, por alguma razão, o Ministério da Defesa britânico (MoD) parece ter decidido que a divulgação diária de briefings sobre os acontecimentos na Ucrânia valia a pena os riscos. Entretanto, os briefings do MoD se revelaram, pelo menos em algumas ocasiões, muito dependentes de fontes ucranianas – o que, por si, parece funcionar como uma espécie de aval, talvez sem que o governo do Reino Unido tivesse consciência disso. Houve vários casos, mas um dos mais impressionantes foi a informação procedente do governo ucraniano e reproduzida pelo MoD, em 22 de março de 2022, segundo a qual as forças russas que invadiram a Ucrânia só teriam munição, combustível e alimentos para mais três dias – ou seja, até 25 de março de 2022. Essa informação foi amplamente divulgada,[6] mas, dados os desdobramentos posteriores a essa última data, não parece ter sido particularmente precisa. Não obstante, não é do conhecimento deste autor nenhum esforço da parte do MoD em esclarecer a discrepância, ou mesmo em reconhecê-la, e nem qualquer questionamento do órgão por parte de órgãos de imprensa.

Em outros casos, algumas considerações bastante importantes para a análise de guerras parecem não ter sido levadas na devida conta no processo de análise, ou, pelo menos, não foram divulgadas adequadamente. Por exemplo, até o final de maio, os briefings do MoD divulgavam regularmente estimativas de perdas de equipamento e baixas das forças russas na Ucrânia, mas não da Ucrânia. Com isso, passou-se, ainda que presumivelmente de maneira não intencional, uma impressão de insucesso das forças russas, que contaminou até mesmo analistas de larga experiência (p. ex., Cohen 2022) e outros talvez não tão experientes, mas já estabelecidos (p. ex., Dalsjö, Jonsson & Norberg 2022). Evidentemente, não é razoável analisar o desenvolvimento de uma campanha com base exclusivamente nas estimativas de baixas de apenas um lado, nem se fiando em informações disponibilizadas apenas por uma das partes em confronto.

Mas um problema especialmente desafiante – nesse caso, manifestado mais em análises que na divulgação de informações – é a dificuldade de analisar e interpretar o desenrolar dos acontecimentos sem adotar como medida de desempenho uma projeção de como se desenrolaria uma campanha conduzida ou liderada pelos EUA, sem levar em conta as diferenças de incentivos, constrangimentos, limitações e urgências e, em especial, a diferença de balanço entre esses elementos.

Esse efeito de mirror-imaging parece particularmente arraigado em analistas estadunidenses. A meu ver – e posso estar enganado quanto a isso –, é esse fenômeno que explica a insistência em afirmar, sem nenhuma evidência de que eu tenha conhecimento, que o plano da Rússia seria realizar uma “Blitzkrieg” para tomar rapidamente a capital ucraniana Kiev e impor um governo fantoche. Como não o conseguira em uma semana ou menos, a ofensiva russa teria sido um fracasso, pondo em risco a sobrevivência política do presidente russo Vladimir Putin e levando-o a uma busca desesperada por algum resultado que pudesse ser anunciado como “vitória” – que, até 8 de maio, dizia-se que ele tinha necessidade de anunciar nas comemorações de 9 de maio (o que, como se sabe, não ocorreu).

Na verdade, a meu ver, é esse entendimento equivocado – associado a um outro entendimento, também equivocado, a respeito do papel da preocupação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na decisão de invadir a Ucrânia, e a um outro, relacionado à subestimação que os países da OTAN (não a Rússia) fizeram da capacidade e da motivação dos ucranianos para resistir às forças russas – que tem trazido aos analistas tantas dificuldades de antecipar o comportamento das forças russas na Ucrânia e o desenrolar dos acontecimentos.

As próximas seções tratarão desses pontos, embora numa sequência diferente. 

POR QUE A UCRÂNIA É TÃO IMPORTANTE PARA A RÚSSIA?

Muito se diz sobre a preocupação da Rússia com a expansão da OTAN e como isso teria deflagrado a invasão de 2014 e a anexação da Crimeia; a continuação da consideração da Ucrânia como candidata à entrada na aliança teria então ensejado a nova invasão, em 2022[7]. Sem dúvida, a Rússia se preocupa com a expansão da OTAN, mas isso é apenas metade da resposta. De fato, na sua cimeira em Bucareste, em 2008, a OTAN declarou formalmente que a Ucrânia e a Geórgia “se tornarão membros da OTAN” no futuro. Sim, a Rússia invadiu a Geórgia em 2008, evitando que a Abecásia e a Ossétia do Sul fossem incorporadas a essa última, e a Ucrânia em 2014, depois da instalação de um governo favorável à entrada na aliança. Mas a OTAN já havia admitido anteriormente não apenas países que outrora pertenceram ao Pacto de Varsóvia, como também países que pertenceram à própria União Soviética e, mesmo depois de 2008 e de 2014, outros países da Europa Oriental.

Parece, portanto, que, do ponto de vista das lideranças políticas da Rússia, a expansão da OTAN é realmente um problema sério quando se trata da Geórgia e, principalmente, da Ucrânia[8]. Isso sugere fortemente que, ainda do seu ponto de vista, o problema é menos com a expansão da OTAN em si do que com a perda de influência ou da capacidade de ação nesses dois países.

No caso da Geórgia, talvez mais importante do que a coincidência entre a guerra da Rússia com a Geórgia e a declaração da OTAN, seja a tentativa de retomada da Ossétia do Sul e da Abecásia pela Geórgia. Ambas são áreas contíguas à Rússia, cujas populações são majoritariamente russófonas e autônomas de fato com relação à Geórgia desde o começo da década de 1990.

Algo semelhante acontece na Ucrânia, na região da Bacia do Rio Donets (frequentemente referida como Donbass), tributário do Dom: como é amplamente sabido desde fevereiro de 2022, as oblasti[9] de Donetsk e Luhansk têm uma importante população russófona, cujos laços com a Rússia vêm-se intensificando desde o fim da União Soviética. Mas, nesse caso, há um outro fator, pelo menos tão importante quanto, que é a base naval em Sebastopol. Aludiu-se a isso em outro texto (Diniz 2022), mas é importante reiterar um ponto: o acesso ao Mediterrâneo pelo Mar Negro é a condição indispensável para que a Rússia possa ter capacidade de agir para além do seu entorno regional imediato, e, do seu ponto de vista, tem que ser garantido, inclusive com atividades clandestinas, encobertas e militares (Flanagan et al. 2020).

Embora os documentos russos mais relevantes priorizem claramente seu entorno regional, e pelo menos um estudo das capacidades militares russas conclua que a capacidade expedicionária das forças russas para além do seu entorno imediato seja bastante restrita (Charap et al. 2021), o fato é que, desde 2011, o declínio da Esquadra do Mar Negro que se seguira ao fim da União Soviética foi revertido. Embora sua capacidade atual seja ainda muito distante da que tivera na Guerra Fria, ela, em combinação com a Flotilha do Mar Cáspio (que vem se modernizando desde os anos 2000), é capaz de atuar também no Mediterrâneo e, eventualmente, no Mar Vermelho e nas vizinhanças do Chifre da África, o que a torna, no dizer de Delanoe (2019, 28), uma força de fato multirregional. 

A capacidade de atuar no Mediterrâneo é hoje especialmente importante para a Rússia. Sua presença no Oriente Médio, com destaque para sua atividade na Síria, apoia-se na Base Aérea de Khmeimim e na Base Naval de Tartus (na costa do Mediterrâneo), ambas sírias, mas operadas pela Rússia. São as únicas bases extrarregionais importantes da Rússia hoje, o que ressalta a importância que ela atribui ao Oriente Médio.

A capacidade de atuar no Mediterrâneo é hoje especialmente importante para a Rússia. Sua presença no Oriente Médio, com destaque para sua atividade na Síria, apoia-se na Base Aérea de Khmeimim e na Base Naval de Tartus (na costa do Mediterrâneo), ambas sírias, mas operadas pela Rússia. São as únicas bases extrarregionais importantes da Rússia hoje, o que ressalta a importância que ela atribui ao Oriente Médio. Além disso, a Síria é considerada importantíssima para o aprendizado, o aprimoramento e o desenvolvimento de equipamentos e doutrina da Rússia (Clark 2021, Urcosta 2020), bem como uma excelente maneira de fazer com que seus oficiais tenham experiência de combate – na verdade, pelo menos em 2021, todos os comandantes dos distritos militares russos e quase todos os oficiais das unidades de nível superior a regimentos e brigadas tinham experiência na Síria (Clark 2021, 9).

Obviamente, a Rússia só pode acessar o Mediterrâneo a partir do Mar Negro, e isso exige que tenha ali uma base naval de maior porte. Embora a Rússia, desde 2005, tenha investido na construção de uma nova base naval em Novorossiysk, é notório que Sebastopol (que era a sede da Esquadra do Mar Negro na época da União Soviética) tem inúmeras vantagens que fizeram dela uma base naval praticamente desde sua fundação em 1783, após a área ter sido tomada ao Império Otomano durante o reinado de Catarina, a Grande[10]. Seu litoral recortado tem em torno de 30 baías e enseadas com águas profundas (mais profundas que as de Novorossiysk), e uma infraestrutura de apoio amplamente desenvolvida ao seu redor, na Península da Crimeia. Sua localização na península, aliás, estabelece condições excepcionais para a sua defesa. 

AVALIANDO OS RESULTADOS (ATÉ AGORA[11]) DA CAMPANHA DE 2022

Os resultados de uma guerra ou campanha – ainda que resultados parciais, quando ainda estão em curso – não podem ser captados diante da alternativa simples e falsa entre “vitória” e “derrota”. Avaliar aqueles resultados significa: (i) avaliar quanto cada lado se aproximou, ou está se aproximando, de alcançar cada um de seus objetivos; (ii) como se alterou, ou está se alterando, o balanço de forças entre as partes em confronto; (iii) como se alterou, ou está se alterando, o balanço entre as forças de cada uma das partes em confronto e as forças de outros atores com quem aquelas interajam ou possam interagir no futuro (Diniz & Proença Jr. 2020). Entretanto, como salientado anteriormente, não é possível atender aos aspectos (ii) e (iii), em função da ausência de informações minimamente aceitáveis[12] a respeito das perdas de cada lado.

Como, conforme já salientado, as partes têm fortes incentivos para não serem totalmente transparentes quanto a seus objetivos, analistas têm que, de um lado, tentar estabelecê-los a partir do seu conhecimento prévio e da situação estratégica, mas – como isso é sempre uma avaliação –, de outro, reexaminar a análise com base em novas informações. Uma tentativa de identificação ex ante dos objetivos da Rússia e da Ucrânia foi feita em outro lugar (Diniz 2022). Retomam-se aqui apenas os resultados, ordenados do mínimo para o máximo. 

Objetivos específicos da Rússia

Objetivos específicos da Ucrânia

R1: Assegurar o controle político sobre Luhansk e Donetsk para garantir um acesso terrestre seguro à Crimeia

U1: Sobreviver como unidade política minimamente autônoma, ainda que com o sacrifício de alguma parte do seu território

R2: Enfraquecer drasticamente as forças ucranianas, eliminando por um bom tempo sua capacidade de retomar Donetsk e Luhansk

U2: Repelir as forças russas sem concessões territoriais adicionais, ou, pelo menos, sem o reconhecimento internacional da anexação da Crimeia e da independência de Donetsk e Luhansk

R3: Impedir, ou pelo menos dificultar, a reconstituição das forças ucranianas, para prolongar esse controle com o mínimo de custos

U3: Tornar a considerar a hipótese de acesso à OTAN

R4: Impedir o fluxo de recursos para as forças ucranianas e/ou para uma oposição armada a partir de Mariupol, de Mykolayiv, de Kherson e de Odessa

U4: Retomar o controle sobre Luhansk, Donetsk e Crimeia

R5: Impedir o fluxo de recursos para as forças ucranianas e/ou para uma oposição armada pelas estradas do Oeste e do Noroeste da Ucrânia

 

R6: Reconhecimento formal pela Ucrânia, e idealmente sancionado internacionalmente, da anexação da Crimeia pela Rússia e da independência de Donetsk e Luhansk

 

R7: Aceitação formal pela Ucrânia, e pelo menos aceitação tácita da parte de Alemanha, EUA, França e Reino Unido (além da China), da desmilitarização permanente da Ucrânia

 

R8: Uma cláusula de “neutralidade da Ucrânia”, significando na prática a rejeição permanente de uma adesão à OTAN (e uma sujeição permanente à Rússia)

 

R9: Alguma forma de reconhecimento, mesmo implícito, mas ainda assim suficientemente claro, de que a OTAN se resignou a aceitar a liderança da Rússia sobre os países da antiga URSS à sua volta, com a exceção – pelo menos temporária – de Estônia, Letônia e Lituânia (membros plenos da OTAN)

 

R10: O levantamento das sanções – idealmente, do ponto de vista das lideranças da Rússia, todas elas, mas, mais plausivelmente, uma boa parte delas, ainda que com alguma dilação no tempo

 

Uma forma de avaliar se a análise acima está correta é observar se o comportamento das partes no desenrolar da campanha ou da guerra é consistente com a identificação de objetivos feita na análise ex ante. Como a situação da Ucrânia é, em larga medida, reativa em relação à da Rússia, o foco recai basicamente sobre o comportamento da Rússia.

Embora se possa arguir que a atuação em prol dos separatistas favoráveis à Rússia nas oblasti da Bacia do Donets fosse uma forte motivação para a invasão de 2014, e a sua autonomia tenha sido incluída no Acordo de Minsk de 2015, o fato é que a Crimeia foi de fato anexada pela Rússia na ocasião, em que pese essa anexação não ser reconhecida internacionalmente. As oblasti de Donetsk e Luhansk são contíguas entre si, e Luhansk é a oblast mais a Leste da Ucrânia, contígua à Rússia. Entretanto, no decorrer da invasão, as forças russas atuaram não apenas em Donetsk e Luhansk, mas também, desde o início da Campanha de 2022, nas oblasti de Zhaporizhia e de Kherson (a primeira cidade de maior porte tomada pelas forças russas na atual campanha), assenhoreando-se das suas áreas litorâneas; mas, até o momento, embora tenham bombardeado regularmente posições nas oblasti de Odessa e de Mykolayiv (contígua à oblast de Kherson), não houve esforço terrestre consistente, sustentado, em sua direção. 

…a prioridade das forças russas na Ucrânia foi, de um lado, estabelecer uma ponte terrestre entre a Rússia e a Península da Crimeia (e um perímetro defensivo para essa ponte terrestre) e, de outro, o controle total sobre o Mar de Azov.

Assim, tudo parece indicar que, diferentemente do que se tem falado, a prioridade das forças russas na Ucrânia foi, de um lado, estabelecer uma ponte terrestre entre a Rússia e a Península da Crimeia (e um perímetro defensivo para essa ponte terrestre) e, de outro, o controle total sobre o Mar de Azov. A Rússia está assegurando seu acesso a Sebastopol e instalações associadas e consolidando seu controle sobre a Península da Crimeia. Em outro texto (Diniz 2022), a análise sugeriu que esse seria o principal objetivo das forças russas nesta campanha; até agora, o desenrolar da Campanha de 2022 a vem corroborando. A importância especial, para a Rússia, do território pertencente à Ucrânia está relacionada à Península da Crimeia, a Sebastopol e às instalações em seu entorno.

Claramente, a melhor maneira de consolidar esse resultado é reduzir drasticamente as forças ucranianas, de modo a impedir que contestem, por ações regulares e/ou irregulares, o controle russo sobre essa área; e reduzir também drasticamente a capacidade da Ucrânia de reconstruir suas forças. Isso não seria possível pela tomada rápida de Kiev e instalação de um governo fantoche: no mínimo, esses fatos não eliminariam a possibilidade de uma contestação prolongada por forças irregulares ou por forças regulares atuando, de certa forma, na clandestinidade. A consciência do que aconteceu com a União Soviética no Afeganistão e com o processo vivido pelos EUA no Iraque (mesmo deixando de lado o ocorrido com os EUA também no Afeganistão) provavelmente levaria as lideranças políticas e militares russas a querer reduzir ao mínimo possível a probabilidade de ocorrência, na Ucrânia, de algo semelhante. Do mesmo modo, como analisado em Diniz (2022), o desdobramento inicial das forças russas não sugere o curso de ação “Blitzkrieg-para-liquidar-o-assunto-tomando-Kiev-em-quatro-dias”.

Avaliando, então, o resultado até agora:

  • Sob essa óptica, R1 (controle sobre Luhansk e Donetsk e acesso à Crimeia), até o momento, foi basicamente alcançado, faltando consolidá-lo plenamente; a falta de informações úteis não permite avaliar R2 e R3 (enfraquecer forças ucranianas e dificultar sua reconstituição); e R4 até o momento foi parcialmente alcançado (impedir a oposição a partir de Mariupol, de Kherson, de Mykolayiv e de Odessa – as duas últimas não foram tomadas). Fora bombardeios ocasionais, uma ofensiva de grande porte para alcançar R5 (impedir a oposição pelas estradas do Oeste e do Noroeste) só seria realizada depois que R1 fosse alcançado, o que só aconteceu recentemente.
  • A respeito de R2 e R3 (enfraquecer forças ucranianas e dificultar sua reconstituição), apesar da falta de informações que permitam uma avaliação mais precisa de até que ponto foram alcançados ou não, cabe comentar o seguinte: a desconsideração da sua importância talvez explique o fato de algumas análises concluírem que as forças russas devem estar encontrando muitas dificuldades (talvez por subestimarem a capacidade e a vontade de resistir dos ucranianos, e/ou talvez por incompetência), pois o avanço sobre o território ucraniano estaria ocorrendo muito lentamente. Pode ser que as forças russas estejam se desempenhando bem pior do que o esperado por seus superiores, pelas suas lideranças políticas e por analistas, ou pode ser que não; simplesmente, não há informação suficiente para qualquer conclusão. Mas o fato de o avanço sobre o território ocorrer muito lentamente não é um critério adequado para avaliar; a rigor, se a lentidão do avanço se dá porque as lideranças ucranianas estão lutando com tudo o que têm – na esperança de, por exemplo, os custos enfrentados pelas forças russas levarem suas lideranças a reavaliar a oportunidade da continuidade do esforço, ou, alternativamente, de que um maciço apoio por parte de aliados (e até, quem sabe, sua entrada efetiva na guerra) permita às forças ucranianas reverter a situação –, então, nesse caso, isso pode estar ocorrendo em benefício das forças russas, pois talvez lhes permita produzir o máximo de desgaste das forças ucranianas em menor tempo. Em suma, como, se a análise acima estiver correta, a rapidez com que o território ucraniano é tomado por forças russas não é uma medida adequada do grau de sucesso destas últimas, a intensidade do desgaste das forças ucranianas, ou seja, a proporção delas que foi destruída (em relação à taxa de reposição das perdas humanas, de equipamento, de munição e suprimentos) é que seria o fator relevante. Mas, como salientado, não há informação suficiente sobre isso.
  • A respeito de R4 e R5 (impedir a sustentação da oposição ucraniana em regiões específicas), pode-se observar o seguinte. Se, antes do início da Campanha de 2022, seria possível imaginar que talvez a Rússia pudesse se contentar com um resultado como o obtido até agora, com a ponte terrestre para a Península da Crimeia estabelecida (e supondo que as forças russas tenham conseguido enfraquecer drasticamente as forças ucranianas), o desenrolar dos acontecimentos pode ter alterado dramaticamente essa situação. Várias lideranças políticas e militares de países-membros da OTAN – notoriamente o presidente Joseph Biden e o secretário de Defesa Lloyd Austin, dos EUA, e o primeiro-ministro Boris Johnson, do Reino Unido – manifestaram, por palavras fortes e ações bem menos fortes (mas muito dispendiosas), sua intenção de expulsar as forças russas da Ucrânia. Dessa maneira, a Rússia não tem nenhum incentivo para contentar-se com o resultado atual, negociando um acordo “Ponte-para-a-Crimeia-em-troca-da-preservação-de-uma-Ucrânia-reduzida”, pois isso permitiria que uma Ucrânia, fortalecida posteriormente por seus aliados, tentasse retomar o terreno perdido, ou seja, alcançasse seu pacote maximalista de objetivos U4 (retomar o controle sobre Luhansk, Donetsk e Crimeia; agora tendo que incluir também as oblasti de Zaporizhzhia e de Kherson).
  • Por conseguinte, seria de se esperar agora que a Rússia prosseguisse em direção a R5 e, eventualmente, a completar R4. Eis aí um possível teste indireto de como está o balanço entre as forças russas e a ucranianas: o incentivo à Rússia para perseguir esses objetivos é tão grande, e os riscos de não o fazer tão elevados, que só lhe faz sentido não fazê-lo se avaliar que não dispõe de condições de tentá-lo sem pôr em risco, mais imediatamente, os resultados já obtidos.
  • Supondo que a Rússia tente e alcance R4 e R5, isso deixaria apenas Kiev e Kharkiv como maiores desafios à tomada completa da Ucrânia; como essa tomada praticamente garantiria de maneira decisiva a plena consolidação do alcançado até agora (a não ser que outros países efetivamente participassem de uma ofensiva para expulsar a Rússia), é de se esperar que, se alcançados R4 e R5, a Rússia busque ocupar toda a Ucrânia, anexando-a, com ou sem reconhecimento internacional.
  • Quanto aos objetivos R6 a R10 (formalização das conquistas russas em diferentes graus), estes já supõem alguma forma de acordo de paz e/ou de um novo modus vivendi a ser negociado a partir dos resultados obtidos no teatro de operações. Sua discussão é, nesse momento, precoce.
  • Passando bem mais rapidamente, por motivos óbvios, pelos objetivos da Ucrânia: embora U3 (ingressar na OTAN) tenha voltado à tona, isso reflete, neste momento, muito mais um esforço de sinalização política do que algo produzido pela realidade no teatro de operações. No momento, do ponto de vista da análise da situação no teatro, a Ucrânia ainda está em busca de U1 (sobreviver como unidade política minimamente autônoma, ainda que com o sacrifício de alguma parte do seu território). 

EMPREGO DAS FORÇAS

Dois outros aspectos intrigantes de uma boa parte dos comentários são: a insistência de que uma das razões do suposto fracasso da “Blitzkrieg-para-tomar-Kiev-em-quatro-dias-e-acabar-logo-com-o-assunto” seria que a Rússia teria subestimado a capacidade e a vontade ucranianas de resistir; e de que uma das explicações para os supostos insucessos da Rússia seria o fato de ela não ter conseguido “estabelecer superioridade aérea”. Embora, de novo, não se possa descartar que problemas de desempenho possam ter ocorrido, os dois pontos não me parecem convincentes.

Em outra análise (Diniz 2022), salientou-se o quanto as forças ucranianas tinham-se modificado e reconstituído desde a Campanha de 2014, e o quanto, em termos estritamente numéricos, não havia uma nítida vantagem da Rússia em termos de forças terrestres alocadas ao teatro de operações – embora houvesse nítida vantagem qualitativa em termos de alcance de artilharia (tubos e foguetes) e de defesa antiaérea. Por outro lado, a vantagem da Rússia em aeronaves era muito grande, quantitativa e qualitativamente. 

Parece-me mais plausível que as análises de organizações de países ocidentais subestimaram a capacidade de resistência ucraniana e, portanto, se surpreenderam quando o avanço das forças russas foi mais lento que o esperado por essas organizações.

Ao que parece, temos aqui dois outros casos de mirror-imaging. Parece-me mais plausível que as análises de organizações de países ocidentais subestimaram a capacidade de resistência ucraniana e, portanto, se surpreenderam quando o avanço das forças russas foi mais lento que o esperado por essas organizações. É muito mais razoável esperar que, no processo de planejamento da ofensiva, as lideranças militares russas tivessem uma noção razoável das capacidades ucranianas em termos de recursos materiais; por outro lado, mesmo que o desempenho das forças ucranianas em 2014 não levasse a se esperar muito delas, o fato é que, entre 2015 e 2022, houve ampla oportunidade para avaliação mútua, com escaramuças e enfrentamentos ocasionais de menor ou maior intensidade, bem como a atividade constante de unidades paramilitares e das forças associadas à RPD e à RPL – sendo que, ao longo de todo o período, houve presença de elementos russos de suporte a essas últimas. Ou seja: a subestimação parece ter sido feita pelos analistas ocidentais – daí a sua surpresa – e não pelos russos.

A referência à “incapacidade de estabelecer superioridade aérea” parece-me também uma projeção, aqui principalmente dos analistas estadunidenses. Curiosamente, a impressão que se tem é que várias dessas análises simplesmente supunham que os esforços de modernização das forças russas teriam que ser no sentido de serem capazes de replicar o padrão estadunidense de combater, herdado, com adaptações, da Guerra do Golfo de 1991. Quem olha a configuração atual das forças russas e se debruça um pouco sobre o desenvolvimento doutrinário russo tende a chegar a uma conclusão diferente. A maneira russa de combater é diferente e parece, em larga medida, voltada para negar aos EUA e aliados a oportunidade de lutar de seu modo preferido, em caso de confrontação direta[13]. Vale aqui uma observação: a configuração, o desdobramento e a doutrina das forças dão pistas muito relevantes sobre sua intenção, sobre o que vão fazer, não no sentido de que elas sempre só teriam uma possibilidade de curso de ação, mas no sentido negativo: elas provavelmente não vão tentar fazer o que não têm capacidade de fazer, ou, pelo menos, o que lhes seria muito mais difícil de fazer. Capacidades telegrafam intenções.

Não é possível apresentar aqui um resumo desses assuntos[14], mas se podem destacar alguns pontos. A reflexão sobre a experiência russa na Geórgia, em 2008, na Ucrânia, desde 2014, e na Síria, desde 2015, e sobre confrontos e hostilidades conduzidos por outrem, destaca a importância da obtenção e integração de informações em tempo real, com papel de destaque para os drones, de modo a permitir a rápida, precisa e maciça utilização de artilharia de longo alcance (tubos e foguetes) e de mísseis e também de drones armados, evitando o contato em combate, e de amplo e sofisticado sistema de defesa antiaérea contra aeronaves e também contra drones adversos. Contra eles é crucial dispor também de grande capacidade de medidas e contramedidas eletrônicas, sem prejuízo do desenvolvimento de outros tipos de defesa contra drones. Isso não só produziria diretamente imenso desgaste nas forças adversas, como também dificultaria sua tomada de decisão, permitindo às forças russas tomar decisões mais rapidamente que seus oponentes e manter a iniciativa para si próprias, obrigando os oponentes a atuar reativamente, sob seu controle. Além disso, costuma-se ressaltar o papel que, segundo analistas, a Rússia atribuiria a atividades de desinformação e disrupção do tráfego no ciberespaço, como forma de controlar o ambiente informacional, e, também, de atividades de propaganda e sabotagem em geral, mas há uma certa ambiguidade quanto à real importância relativa dessas atividades.

Especificamente no que concerne ao emprego de drones (de reconhecimento e armados) e à defesa contra eles, a Rússia se beneficiou muito da experiência adquirida a partir dos ataques por drones contra a Base Aérea de Khmeimim, na Síria, apontados por Urcosta (2020, 1) como “os primeiríssimos ataques desta natureza contra uma grande potência militar”; e, também, dos confrontos ocorridos do final de setembro ao começo de novembro de 2020 entre Armênia e Azerbaijão em torno do Alto Carabaque[15]. Um importante aspecto é que, nesses dois casos, as forças russas (na Síria e também na Líbia) ou apoiadas pela Rússia (como a Armênia) tiveram que se haver com o emprego de drones desenvolvidos pela Turquia, que são uma boa parte dos drones utilizados atualmente pela Ucrânia (junto com alguns provenientes do Reino Unido).

Novamente, a carência de informações sólidas dificulta uma análise completa de em que medida esses entendimentos vêm sendo de fato aplicados na Campanha de 2022 e qual o seu efeito. Mas já parece ser possível concluir algumas coisas.

Embora seja impossível aferir a veracidade de relatos que falam em até 50 mil disparos de artilharia por dia pelas forças russas (Galante 2022), parece bastante claro que a utilização de artilharia de tubos e foguetes de longo alcance e de mísseis é bastante intensa, e a disponibilidade de dados obtidos e transmitidos por drones aumenta dramaticamente a precisão até mesmo da artilharia convencional. Por outro lado, apesar de alguns aparentes sucessos iniciais do emprego de drones pelas forças ucranianas (Johnson 2022), o desaparecimento dessas referências parece sugerir que a defesa antidrones pelas forças russas estaria tendo sucesso – talvez até mesmo com emprego de novo equipamento de contramedidas eletrônicas (The Jerusalem Post 2022) –, mas isso não é possível confirmar no momento.

Mais difícil é estimar em que medida isso efetivamente facilitou a atividade das unidades de blindados e de infantaria. Novamente, há ausência de informações minimamente sólidas sobre as perdas de cada lado e sobre onde elas teriam ocorrido (se principalmente em combate urbano ou não). Também a avaliação da eficácia relativa do emprego de aeronaves e da defesa antiaérea terá que aguardar mais e melhores informações. Também aqui os supostos sucessos iniciais do emprego de drones armados e mísseis portáteis antitanques pelas forças ucranianas teria trazido de volta, pela enésima vez na história, a discussão a respeito do fim dos tanques (Johnson 2022). Essa suposta eficácia não só é difícil de confirmar, quanto, por outro lado, leva a imaginar o que aconteceria caso forças tivessem que avançar e combater sem a proteção da blindagem e/ou sem o recurso de veículos. Evidência de exageros similares é amplamente documentada, inclusive para acontecimentos recentes como a guerra entre Armênia e Azerbaijão em 2020 (Bateman 2020).

Parece difícil também avaliar a eficácia e os resultados do emprego de mísseis hipersônicos. Há controvérsia sobre o emprego ou não de Kinzhal, mas, de qualquer modo, o Kinzhal é um míssil balístico e não pertence rigorosamente à categoria dos novos mísseis hipersônicos. Mísseis balísticos normalmente têm velocidades superiores a cinco vezes a velocidade do som – a definição, digamos, formal de “hipersônico” –, mas não são esses que configuram a novidade.

Por fim, até o momento, pelo menos, não há indícios de atividades de desinformação e sabotagem, no ciberespaço ou não, que tenham precedido a invasão ou no decorrer da campanha, o que sugere que essas atividades ocupam uma importância secundária em comparação com as capacidades de destruição físicas. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS    

A análise, mesmo preliminar, dos resultados – parciais ou não – de guerras e campanhas é muito difícil, até mesmo porque é difícil estimar com precisão os objetivos das partes, ao mesmo tempo em que não é possível avaliar aqueles resultados sem essa estimativa, que deve ser, portanto, constantemente reavaliada. Além disso, normalmente já é difícil obter informação de qualidade sobre acontecimentos e perdas, mesmo muito tempo depois de encerradas as hostilidades, mormente quando ainda estão em curso. Ainda assim, decisões cruciais, muitas delas urgentes, tanto para coletividades quanto para organizações e indivíduos, tanto para agentes públicos quanto privados, dependem dessas avaliações e estimativas. 

…observa-se uma reprodução acrítica, até mesmo da parte de fontes jornalísticas e de organismos de inteligência, de informações que parecem muito mais consistentes com esforços de propaganda do que com a busca sistemática de compreensão dos acontecimentos em curso.

No caso particular da atual campanha russa na Ucrânia, que é parte de uma guerra iniciada em 2014, alguns fatores específicos parecem estar dificultando a realização de análises mais sólidas. Especificamente, observa-se uma reprodução acrítica, até mesmo da parte de fontes jornalísticas e de organismos de inteligência, de informações que parecem muito mais consistentes com esforços de propaganda do que com a busca sistemática de compreensão dos acontecimentos em curso. Embora seja possível compreender a dificuldade de obtenção de informação de boa qualidade por parte de órgãos de imprensa, é mais difícil compreender a docilidade e o conformismo com que informações manifestamente inconsistentes, ou provadas falsas, simplesmente desaparecem sem qualquer questionamento, e as mesmas fontes são consultadas ou citadas sem qualquer explicação para os erros ou falhas. Dessa forma, por paradoxal que possa parecer, em vários casos, a melhor pista para uma conclusão é a ausência de informações e de notícias – aquilo que fora alardeado e, a certa altura, simplesmente sumiu do noticiário, sendo os desdobramentos inconsistentes com os anúncios anteriores. De certa forma, a situação é análoga ao “comportamento inusitado do cachorro”, no conto de Sherlock Holmes: o acontecimento relevante é a ausência de acontecimento. Isso significa uma exigência muito maior para o analista, pois identificar o valor informacional dessas ausências e “desacontecimentos” exige conhecimento e experiência acumulados.

Mesmo assim, foi possível chegar a algumas conclusões, ainda que tentativas. Dentre estas, vale a pena destacar que é possível conceber maneiras alternativas de combater que aproveitem vantagens das próprias forças e reduzam a eficácia e neutralizem vantagens das forças adversas. Não é necessário replicar as capacidades de outros atores, e a incapacidade de fazê-lo não é necessariamente motivo para desânimo.

A análise da atual campanha da Rússia na Ucrânia, assim como a das hostilidades na Síria e a da Guerra Armênia-Azerbaijão de 2020, sugere que drones de reconhecimento, monitoramento e obtenção de inteligência e drones armados são um importante multiplicador de capacidade combatente, e que a defesa contra eles, notoriamente desafiante, é uma importantíssima área de pesquisa, com ampla possibilidade de desenvolvimento – bem como a pesquisa em contra-contramedidas. Se hoje a combinação de medidas e contramedidas eletrônicas e defesa antiaérea é a maneira predominante de enfrentá-los, há amplo espaço para o desenvolvimento de capacidades mais avançadas, como lasers, por exemplo.

Uma outra conclusão, bem mais prosaica, também merece ser considerada. Os resultados alcançados até agora pela Rússia parecem decorrer, em larga medida, do emprego sistemático de artilharia. Entretanto, isso vai muito além da disponibilidade dos tubos e lançadores de foguetes: há a necessidade de ampla disponibilidade de munição. Embora isso pareça à primeira vista um truísmo, o fato é que é muito frequente o foco recair principalmente sobre a compra de peças. A título de exemplo, no final de abril, a Alemanha concordara em enviar à Ucrânia uma determinada quantidade de peças de artilharia antiaérea autopropulsada Flakpanzer Gepard, o que foi saudado à época como uma significativa mudança de posição por parte da Alemanha. Entretanto, a fabricação de munição para esse tipo de equipamento deixou de ser realizada em 2010. Os esforços para conseguir munição indicavam que seria possível obter 300.000 cartuchos, o que é muito pouco em termos de artilharia antiaérea (Valor Econômico 2022).

A conclusão mais difícil de se analisar é exatamente a extensão em que os objetivos das partes estão sendo efetivamente alcançados. A insistência descabida na mensuração de quilômetros de avanço das forças russas simplesmente ignora a possibilidade de que as forças ucranianas estejam voluntariamente se expondo a uma taxa de atrição muito significativa, que estaria obtendo um suposto esgarçamento do ataque russo, com o propósito de ganhar tempo e produzir efeitos psicológicos e políticos relevantes, ao preço de desgastar mais intensamente a sua capacidade de resistência posterior. De novo, a insistência com que balanços de perdas relativas não são publicados regularmente por parte de quem parece mais engajado em propaganda do que em análise sugere que a publicação dessa informação seria prejudicial àquele esforço – ou seja, no caso, enfraqueceria a propaganda ucraniana. Evidentemente, a base para a conclusão é pouco sólida, o que obriga a muita cautela nesse tipo de conclusão: o ideal mesmo seria poder contar com informação de melhor qualidade, o que decididamente não é o caso.

Por outro lado, a mesma dinâmica de anúncios exagerados e resultados não obtidos (a “contraofensiva ucraniana em Kherson”, propalada desde maio, mas que até o começo de julho não produziu resultado significativo; o entusiasmo com que se anuncia que as áreas controladas pela Rússia serão retomadas, ao mesmo tempo em que a Rússia intensifica o uso do rublo e prepara referendos nas áreas em questão) sugere um desenrolar mais favorável às forças russas que às ucranianas, em contraste com o alarido midiático. Mas, novamente, esse tipo de conclusão tem que ser avaliado com muita cautela, mas, ao mesmo tempo, não é possível evadir à tarefa.

Em suma, os acontecimentos em curso na Ucrânia devem ser acompanhados com atenção, apesar das dificuldades. Além da evidente importância dos resultados e das suas consequências, há ampla oportunidade de aprendizados importantes para a defesa de qualquer país – naturalmente, Brasil incluído. 

Notas

[1] O autor agradece o apoio do CNPq.

[2] Esse artigo dá continuidade a outra avaliação, publicada anteriormente (Diniz 2022), contendo algumas ideias e pontos que serão retomados neste texto. As ideias aqui apresentadas beneficiaram-se imensamente da troca regular, praticamente semanal, com Antônio Jorge Ramalho Rocha, Augusto Teixeira Jr., Daniela Vieira Secches, Danielle Jacon Ayres Pinto, Domício Proença Jr., Graciela De Conti Pagliari e Layla Dawood. Agradeço-lhes enormemente pelo privilégio do diálogo respeitoso e da convivência prazerosa. Erros e tolices que porventura haja, porém, eu os cometi sozinho.

[3] Para análise desse período, v. Kofman et al (2017).

[4] O fato de, neste texto, referir-se a essas entidades pelo nome ou pela sigla e sem aspas não significa nenhum tipo de afirmação ou insinuação a respeito de sua validade jurídica, e muito menos da sua extensão ou alcance. Trata-se simplesmente de uma comodidade para a redação e para a leitura.

[5] Para um breve apanhado geral das forças em confronto, v. The Armed Conflict Survey (International Institute for Strategic Studies 2021, 93-94).

[6] A título de exemplo: Exame (2022), Estadão (2022), Jovem Pan (2022), Veja (2022) e Lopes (2022).     

[7] De novo, os proponentes de variantes desse argumento são legião, e seria impossível enumerá-los todos, mas podemos considerar John J. Mearsheimer como seu principal expoente (Mearsheimer 2014, Mearsheimer 2022).

[8] Diga-se de passagem, o próprio Mearsheimer admite isso, ao citar, concordando explicitamente com ela, a afirmação do ex-secretário de Estado Robert Gates e das resistências de Alemanha e França: “My story about the conflict’s causes should not be controversial, given that many prominent American foreign-policy experts have warned against NATO expansion since the late 1990s. America’s Secretary of Defense at the time of the Bucharest summit, Robert Gates, recognised that ‘trying to bring Georgia and Ukraine into NATO was truly overreaching’. Indeed, at that summit, both the German chancellor, Angela Merkel, and the French president, Nicolas Sarkozy, were opposed to moving forward on NATO membership for Ukraine because they feared it would infuriate Russia.” (Mearsheimer 2022). O que surpreende é que, a partir daí, Mearsheimer, ao invés de realçar a diferença de Ucrânia e Geórgia, subsume-as na resistência geral à expansão da OTAN. Isso sugere, um tanto paradoxalmente, que o que originalmente seria uma crítica ao comportamento do Ocidente, e ao dos EUA em particular, acaba transformando-se numa “hiperexaltação”: é como se tudo girasse sempre em torno dos EUA, e os outros países, mesmo grandes como a Rússia, não tivessem motivações próprias, e sempre apenas reagissem ao comportamento dos EUA.

[9] Regiões administrativas russas.

[10] Em 1954, Nikita Khruschev cedeu a Crimeia à Ucrânia, o que, à época, não fazia muita diferença, sendo ambas, Rússia e Ucrânia, repúblicas da União Soviética. Após o fim desta última, Sebastopol foi arrendada à Rússia, por um tratado que expiraria em 2017. Viktor Yushchenko, presidente ucraniano entre 2005 e 2010, sinalizou que não renovaria o acordo, mas este foi renovado até 2042 após a eleição de Viktor Yanukovych, em 2010. Sua derrubada em 2014, após uma série de protestos, é um dos antecedentes imediatos da invasão russa à época.

[11] Reiterando, “até agora” significa “com base nas informações obtidas até 7 de julho de 2022”.

[12] A equipe do sítio Oryx (www.oryxspioenkop.com) faz um trabalho interessantíssimo, mas, em função de seus objetivos, seus critérios são muito exigentes, o que faz com que as perdas efetivas de cada lado sejam necessariamente muito maiores que os números ali apontados – como, aliás, é reconhecido pela própria equipe –, e não é possível estabelecer nenhum fator empírico de correção.

[13] Uma ressalva é que mesmo analistas bastante familiares com o desenvolvimento doutrinário russo – p. ex., Michael Kofman – parecem ter-se surpreendido. Nesse caso, porém, a causa da surpresa talvez seja a própria subestimação da capacidade e vontade ucranianas de resistir, e não da mirror-imaging doutrinária.

[14] Para mais informações sobre organização e doutrina das forças russas, v., p. ex., Clark (2021), Defense Intelligence Agency (2017), Grau & Bartels (2016), International Institute for Strategic Studies (2020), Kofman et al. (2021).

[15] Sobre essas experiências, v. Barrie & Ebert (2021), Clark (2021), Cooper (2021); Frantzman (2020), Shaikh & Rumbaugh (2020), Stronell (2020 e 2021), Urcosta (2020).

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Recebido: 11 de julho de 2022

Aceito para publicação: 10 de agosto de 2022

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